Anne,
Cá estou eu, sentado no chão do meu quarto, luz apagada, porta fechada, caneta na mão, abajur ligado no seu modo mais fraco, iluminando apenas um pouco a folha do caderno velho que tenho em minha pernas, e nele escrevo para você agora. Sei que, no folha anterior eu disse que iria sair de sua vida assim como saiu da minha, contudo sou mais fraco do que imaginava. Escrever foi a única saída plausível que encontrei para manter você comigo. Não adianta, sou fraco, caí na tentação. Mas mesmo que você nunca leia nada disso, não importa, pois enquanto este caderno que agora escrevo estiver comigo, você fará parte de mim. Hoje mesmo quando me deitei na cama, após chegar da escola eu liguei meu celular, coloquei no aplicativo de música e dei o play. Estava contente, até o momento que tocou aquela música. Você lembra dela não lembra? Aquela que você me indicou dizendo: "Você tem que escutar essa música Peter, ela descreve minha alma, deve descrever a sua também, é perfeita e se não gostar, escuta de novo ok?", naquele momento eu sorri, e fui escutar a música. Você tinha razão, ela era realmente perfeita, e sim descrevia minha alma assim como a sua. Acho que a maior razão para eu ter gostado dela foi por ter sido indicada por você. Sempre que você estava ausente eu a escutava, e todo aquele vazio era preenchido por aquela melodia simples, calma e confortante. Os dias ficavam mais claros quando eu a escutava, a escuridão do céu noturno parecia não me fazer tanto medo, a dor dentro do peito parecia sumir. Mas tudo "parecia" perfeito naquela época. Foi ficando parecendo até que um dia desapareceu. Os dias voltaram a ficar nublados, a escuridão do céu noturno ficou mil vezes mais ameaçadora, a dor no peito voltou a tona mais forte do que antes. Todas as vezes que escuto aquela música um turbilhão de sentimentos se amontoam em meu peito. Queria de alguma forma fazê-los parar.
 Mas não consigo!
Sempre que a escuto, o que estou fazendo agora, tenho vontade de falar com você. Todas às vezes que vejo aquela bolinha verde ao lado do seu nome no meu chat, tenho vontade de colocar essa música e apenas sentir, tentar fazer com que apenas as emoções boas fiquem. Mas elas nem aparecem. Desde o dia que você se foi, o simples hábito de escutar aquela música se tornou doloroso, assim como tudo que eu fazia.
Eu vejo meu reflexo no espelho, por que eu estou fazendo isso comigo mesmo? 
Por que eu não consigo ficar bem de vez? Por que me tenho me prendido a alguém que  me descartou na primeira oportunidade? Pergunto-me se é verdade. Cada lágrima que derramo, terá ela sido em vão? Cada noite que passei em claro, terá elas sido sem nenhum proposito? Elas tem. Tenho certeza.
Às vezes é difícil seguir seu coração, lágrimas não são uma derrota, todos estão sofrendo.
Dizer que não sinto sua falta seria hipocrisia minha. Mas, eu tenho que tentar ser forte, tenho que tentar me desprender de você. Tenho que ser livre. Acho que estou chegando perto disso. Mas enquanto isso não chega, acho que continuarei com esse caderno, escrevendo, cartas? Não diria tanto. Mas apenas lembranças, que um dia  lembrarei sorrindo sobre isso.

Peter.

 P.s Assim como Peter, eu tenho uma fascinação por músicas, e elas me remetem vários sentimentos, sejam eles bons ou ruins. Passei por uma situação bem parecida como a dele, a música que outrora fora indicada por uma pessoa muito especial minha, hoje dia só me recorda da dor de ter aquela pessoa tão longe.

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