É madrugada de uma sexta feira e chove muito lá fora. Não consigo dormir, pois estamos sem energia. O vento bate nas árvores e reproduz um barulho assustador aqui dentro. Acontece que se fosse apenas a chuva estaria tudo bem, mas são as vozes, elas que me assustam, escuto vozes o tempo inteiro.
Estou deitado em minha cama encolhido, olho pela janela apenas para ver as gotas d’água escorrendo. Gosto de imaginar que o céu nada mais é que uma pessoa, e quando chove, é porque ele não resistiu e desmoronou, não por ser fraco, mas por ser forte e saber a hora de dizer que não suportou tudo aquilo e quer colocar para fora. Queria poder ser como o céu, poder chorar com facilidade, poder me livrar das críticas, das ofensas, das calunias que fazem contra mim. Mas não posso, acho que sou alguém destinado a escuridão dos frios e horrendos pensamentos. As vozes me perturbam a todo instante. Gostaria de poder fazê-las pararem, porém não consigo.
Tem horas que só quero gritar, com tudo e com todos. Mas todas às vezes minha voz falha, e não consigo nem sequer sussurrar. Gostaria de poder dormir, amanhã é um novo dia. Acontece que, se eu dormir tenho medo do que pode acontecer em meu subconsciente, acho que tenho medo dos pesadelos. Não. Tenho medo dos sonhos. Os pesadelos são como um refúgio. Confesso que às vezes eu gosto deles, pois eles me lembram de que minha vida não é perfeita. Já os sonhos, eles de alguma forma conseguem me convencer de que sou digno de alguma felicidade, apenas para quando eu acordar perceber que aquilo nunca poderá acontecer. Esses sonhos me iludem com pessoas e lugares perfeitos, me mostram tudo àquilo que eu deveria querer para minha vida, apenas para que depois seja arrancado de mim pela dura e mórbida realidade.
A chuva está cada vez mais forte e os barulhos cada vez mais altos, sou grato ao céu por isso. Porque com todo esse barulho eu quase já não escuto aquelas vozes, elas que antes eram gritos; agora não passam de leves sussurros. Meus pensamentos estão mais calmos, minha mente não está mais tão turbulenta quanto ela costuma ser. Com a mente tranquila, logo o sono vem chegando. Algo na minha cabeça está sussurrando: “Não durma, é perigoso, você sabe disso, você tem medo daquilo que acontece sempre que fecha os olhos”. Acontece que nesta noite me sinto diferente. Meus pensamentos, ou melhor, as vozes que me atormentam talvez me deem o dia de folga.
Sempre tive medo da minha própria mente. Ela sempre me atormentou durante minhas noites, me fazendo acordar e ficar olhando para o teto do quarto temendo dormir e ver tudo aquilo novamente. Mas eu era uma criança, uma criança que tinha medo do próprio sono. Hoje? Bom hoje eu tenho coragem, talvez não a coragem suficiente para não temer a nada, mas a coragem suficiente para fechar os olhos e enfrentar meus medos.


Acho que farei isso hoje. 
                       
 Christian Raphael

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